sexta-feira, julho 02, 2010

História

Abro os olhos,
Encontro-me numa sala escura, não sei bem onde.
Olho à minha volta, no fundo vejo um pequeno candeeiro que reluz intermitentemente.
No meio da escuridão, um esboço de uma mesa está desenhado com uma singular gaveta com um ar que nunca foi usado.

Pergunto-me:
- O que faço aqui?
- Onde estou?

Mas as respostas não me vêm à cabeça.
Deixo as perguntas existenciais e concentro-me naquele candeeiro.
Quem o terá deixado ali abandonado?
E porque estará a luz intermitente?

Penso:
- Vou ajudá-lo.

Levanto-me numa tentativa de fazer algo além de estar ali sentado no chão, como pelos vistos já estou há algum tempo.

Caminho para o candeeiro mas parece que não o alcanço.

Na sala não se distinguem as paredes do chão, nem o chão do tecto, apenas tenho a noção que estou a andar sobre algo que me suporta.

Começo a correr, não alcanço aquele candeeiro.
Parece que a sala nunca mais acaba, parece que corro parado, parece que não o consigo alcançar.

Começo a suar e a ficar cansado, depois de correr tanto não o consegui alcançar.
Desisto e no meio daquele tenebroso chão me sento.

De repente, sinto-me a cair.
No chão tinha-se aberto um buraco invisível...
Ou então o chão teria desaparecido?
Como não reparei eu naquilo?

Começo a ver uma luz lá em baixo.
Desta vez diferente.
Uma luz calorosa, quente no meio de um quadrado azul.

Continuo a cair, desta vez em direcção a esse quadrado e bem rápido.

Penso para mim.
- É agora. Morri e não tinha dado por isso. Estou a chegar ao tão aclamado "céu".

Esbato-me conta esse quadrado, que subitamente se parte.

Dou por mim no meio de uma avenida de Lisboa.
Estão duas pessoas ao meu lado.

Tento perceber quem são mas a luz ainda me fere os olhos.

Vejo um rosto familiar e isso acalma-me.
Tento correr na direcção dele mas não me consigo mexer, contudo toda a avenida à minha volta estava viva e com uma movimentação normal.

De repente essa pessoa começa a chorar e vejo a outra a atravessar a rua.
Começo a sentir-me com raiva.
Grito para aquele distinto que atravessou a estrada:
- Filho da Puta! Como foste capaz?
Mas parece que não me ouviu, aliás eu estava ali mas ninguém reparava em mim.
Eu próprio não conseguia ver o meu corpo, apenas conseguia presenciar aquilo que estava a acontecer.
Não me conseguindo mexer, nada podia fazer.

Subitamente vejo a pessoa que eu conheço a atravessar a estrada também.
Levanta uma mão.
Acerta na face direita do rosto da outra pessoa.
Começam os dois a discutir.
Eu queria-me mexer, queria ajudar mas não podia.

Desvanece-se tudo, deixei de estar naquela avenida.
Olhei para trás de mim, senti que já me conseguia mexer.
Uma porta apareceu.
Abro-a.

Estou nas escadas de um prédio verde.
As mesmas duas pessoas.

Desta vez encontrava-me dentro do meu conhecido.
Vejo nas escadas sentada a outra pessoa que estava na avenida há uns momentos atrás.
Sinto um calor ao meu lado, tinha-me acabado de sentar ao lado dela.

- Desculpa, quero começar do zero. Não te quero perder.

A minha mão estica-se e juntamos as mãos.
Gera-se um beijo, um carinho, um abraço.
Senti-me bem.

Pela primeira vez desde a altura em que entrei naquela sala escura senti alguma coisa se não um vazio.

Desvanece-se tudo outra vez.
Já estava farto que aquilo acontece-se.

De repente começo a ver umas luzes no escuro.
Uma música alta sobre mim abate-se.

Encontro-me no topo de uma discoteca.

Lá em baixo, reparei nas mesmas duas pessoas rodeadas de outras duas.
Sento-me, suspenso no ar a observar.

Na frente daquele rosto familiar vejo uma pessoa.
A mesma outra pessoa presente em todas as outras alturas avança para aquele desconhecido.

Beija-o. Eternamente, ternamente como se só houvesse aquele momento.

O meu conhecido desaparece, porta a fora.
Atravesso a parede da discoteca para ver o que teria ido fazer.

Vejo-o sentado na beira de um passeio, cabisbaixo.
Parecia chorar.
De repente olha para cima.
Será que me viu?

Os olhos brilhavam com as lágrimas,
Olhava na minha direcção mas parecia não me ver.

Levanta-se num ápice e entra porta a dentro.
Corro para ver o que vai acontecer.
Vai em direcção aquela pessoa, afasta o outro e beija-a.

O que se passaria ali?
Tentava entender mas não compreendia.

Passado alguns minutos foram-se embora.
Onde estariam?

A luz dos projectores da discoteca reflectiam sobre mim.
Uma luz branca abrangeu-me e deixei de conseguir ver alguma coisa que fosse.

Tive aquela sensação outra vez.
Percebi que estava a cair para outro lado qualquer outra vez.

Estou num quarto.
Tenho um corpo outra vez.
Rapidamente percebi que voltei a estar dentro daquele meu conhecido.
Olho para as paredes à minha volta,
Algumas fotos estão coladas à parede,
Pergunto-me quem serão aqueles todos.
Mas rapidamente desvio a minha atenção pois comecei a andar.
Abro a porta desse quarto,
E entro logo na sala à direita.

Vejo duas pessoas sentadas num sofá verde.
Uma numa ponta, outra do outro lado do sofá.
Na televisão davam uns desenhos animados.
Apercebi-me de quem eram.
Mais uma vez aquela personagem que estava em todo o lado,
E um desconhecido.

Começo a andar em direcção àquela pessoa,
A mesma que estava nas escadas.
Agarro nela.

"Vens comigo" - proferi.

Dirigi-me ao quarto, deitei-me.
Adormeci.

Dou outra vez por mim na mesma sala vazia e escura.
O mesmo candeeiro lá ao fundo.
Pergunto-me o que estaria a acontecer comigo?
Porquê é que estive a presenciar aquilo tudo.
E o que seria aquela sala...

Desvio os pensamentos e vou outra vez a correr em direcção ao candeeiro.
Desta vez alcancei-o num ápice.
Coloquei a mão na lâmpada ingenuamente e queimei-me.
Esqueci me que a luz apesar de estar intermitente estava acesa.
Mesmo assim rodei a lâmpada e ela encaixou.
Fez-se uma luz gigante.
Aquele candeeiro estava a fazer sentir-me feliz.
A lâmpada que outrora estava intermitente, encontrava-se agora fixa.
A luz branca que emanava começava a mudar.
Comecei a ouvir o mar.
Comecei a ver uma praia.
Senti-me feliz.
Corria pela praia com aquela pessoa.
Fomos à água e nadámos.
Envolvemo-nos.
Sentia-me espectacularmente bem.

Talvez tenha sido por ter arranjado o candeeiro.
De repente o sol desapareceu.
O céu encontrava-se rodeado por estrelas.
Mas estava na praia na mesma.
Aquela pessoa estava agarrada a mim,
A fumar um cigarro.
Sabia bem.

Fecho os olhos,
Sinto e vivo.
Apercebo-me.
Aquilo sou eu.
Aquele fui eu.
Aquele era eu.

Aqueles momentos todos tinham sido passado por mim.
Sinto saudades deles.
Recordo muitos outros.
A uma velocidade incrível,
Um raio de luz emanou sobre mim ainda com mais força.

Vivi-os todos outra vez,
Senti-os todos outra vez.
Comecei a sentir-me extremamente feliz.

1 segundo depois tudo parou.
Senti saudades e só tinha passado um segundo.
Mas porque raio teria parado aquilo?

Repentinamente entro dentro do corpo do meu conhecido outra vez.
Do meu eu anterior.
Estou no computador.

Leio uma coisa que não consegui ler desta vez,
Desato a chorar.

Mesmo sem conseguir ler,
A sensação que me encheu naquele momento era que tudo tinha acabado.

Volto à sala escura.
Mas desta vez não estava sozinho.
Senti-a a presença de alguém.

Retirei o candeeiro de cima da mesa,
E apontei para aquele canto longínquo.
A luz emanou sobre um corpo que estava sentado com a cabeça entre-as-pernas.
Era uma pessoa que conhecia de algum lado.

Reparei, era aquela pessoa que estava comigo anteriormente em todos os sitos que estive à momentos atrás.

Caio em mim, vejo quem é, reconheço.
Pergunto:

- O que fazes tu aqui?

Não houve resposta.
Revoltado, gritei outra vez a pergunta que tinha feito.

Não houve resposta.
Sentia-me extremamente chateado, magoado e comecei à procura de algo para acabar com tudo.
Dar um fim a tudo,
Contudo não consegui.

Apareceram algumas figuras à minha volta,
Olhei para elas, reconheci-as.

De todas as idades, surgiram à minha volta e sorriam.
Eram os meus amigos.
Senti-me bem mas deixei-me cair.
Apanharam-me e não me deixaram bater com a cabeça naquele soalho instável.

O candeeiro que tinha na mão cai.
Assim que bate no chão, pensei:
- Não te partas!

Repentinamente o chão ganha luz,
As paredes e o tecto desaparecem.
Aquela pessoa desaparece.
Apenas eu e quem se importava comigo estava ali.
Vem connosco, disse um.
Os outros continuavam imoveis, sorrindo.

Enchi-me de força,
Senti-me feliz.
Pus um deles às minhas cavalitas,
E o resto dos mais novos levei-os pelas mãos.
Os mais velhos caminhavam ao meu lado.
Senti que estava bem.
Senti que tudo estava de volta.
Que estava vivo.

Tinha finalmente saído daquela sala fria e escura.
Tinha deixado aquele vazio que me rodeava.
Comecei com eles uma expedição por tudo aquilo que passámos juntos.
Sentia-me em casa no meio deles.

Corremos,
Viajámos,
Voltámos à praia.
Rimos e chorámos juntos.
Vivemos.

Percebi após isso tudo que tinha sido parvo,
Ignorado quem se importava comigo.
Dado importância a uma só pessoa.
Não merecedora disso tudo.

As estrelas brilhavam sobre mim,
Olhei para elas,
Reparei nas mais pequenas e nas maiores,
Com tanta gente no mundo porquê dar importância a uma só?

Ignorância minha e ingenuidade.
Mudei a minha forma de ser de pensar.
Escolhi as pessoas à minha volta,
Mudei de contactos para que o passado não viesse atrás de mim.
E mesmo que conseguisse eu sabia que o conseguia enfrentar e continuar em frente.

Construí o meu futuro.
E comecei a olhar para tudo de maneira diferente.

Tive de tomar decisões difíceis mas que com eles,
Era tudo muito mais fácil.

Endireitei,
Construí uma sala à minha volta,
Onde todos coubéssemos.
Pus um segurança à porta,
Só entrava quem eu queria.

Escolhi viver assim,
Partilhar o que a vida tem de bom,
Lutar contra o que tem de mau.

E aqui estou eu.
Sentado numa cadeira a escrever este texto.

Representativo, ilustrativo e vivo.
Meu passado e minha história.
Consegui e estou feliz por isso.

Porque a vida continua.
Porque tive força para enfrentar,
Porque essencialmente tenho amor e pessoas que me completam,
São eles todos os meus verdadeiros amigos.

Dedicado a todos vocês,
Desde os mais antigos aos mais recentes,
Incansáveis,
Singulares,
Únicos,
Brilhantes.

Obrigado,
Também vou estar sempre ao vosso lado.

<3

BY JACK 2010

3 comentários:

Sid disse...

TOMA LÁ FILHA DA PUTA!

... Obrigado :')

Anónimo disse...

Se nao trabalhases onde trabalhas
Dizia para ires para escritor ahah
Grande texto (L)

Pedro

João Aguiar disse...

Como sempre, mais uma mensagem introspectiva absolutamente fenomenal! Parabéns! Ainda vais escrever um livro!